A proximidade do início da fase de transição da reforma tributária, prevista para 2026, tem acendido um sinal de alerta no meio corporativo brasileiro. Pesquisa conduzida pela consultoria Robert Half com 100 profissionais que lidam diretamente com o tema mostra que apenas 11% das empresas afirmam estar totalmente preparadas para enfrentar as mudanças.
Enquanto isso, 50% avaliam que poderiam estar mais bem estruturadas e 37% admitem não estar prontas, ainda que tenham iniciado análises sobre os impactos da nova legislação. Para especialistas, os dados revelam a urgência de investimentos em pessoas, processos e tecnologia.
Mais que uma reforma fiscal
De acordo com Vitor Silverio, gerente da Robert Half, a reforma vai muito além da simplificação de tributos. “Trata-se de uma verdadeira reforma de negócios, capaz de influenciar logística, precificação e toda a cadeia operacional das empresas”, destacou.
O levantamento indica também que 53% das companhias pretendem contratar ao menos três novos colaboradores para lidar com a transição — percentual que sobe para 58% no caso das grandes empresas. As novas vagas devem atender principalmente às áreas de:
- parametrização de sistemas de gestão (44%),
- diagnóstico de impactos tributários (37%),
- e substituição de equipes dedicadas exclusivamente ao tema (69%).
Desafios do período de transição
Entre 2026 e 2033, empresas terão de conviver com dois sistemas tributários simultâneos:
o atual, com PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS;
e o novo, com CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e IBS (Imposto sobre Bens e Serviços).
Para Bruno Damasceno, sócio do escritório Bandeira Damasceno Advogados, a duplicidade de regras exigirá investimentos extras. “Será necessário operar com modelos paralelos, o que naturalmente amplia a complexidade do dia a dia”, afirmou.
Esse cenário já reflete no mercado de trabalho. Segundo levantamento setorial, a busca por gestores interinos em projetos ligados à reforma tributária aumentou 24% entre abril e junho de 2025. O advogado Bruno Medeiros Durão ressalta que a combinação de especialistas temporários com um núcleo interno fixo tem se mostrado uma alternativa eficiente para empresas que precisam de ajustes rápidos e de curta duração.
Insegurança jurídica e perspectivas
Outro ponto de preocupação é a insegurança jurídica. Para o tributarista Jonas Filho, a unificação de tributos de diferentes esferas gera dúvidas sobre competência de julgamento e recuperação de créditos.
Ainda assim, há expectativas positivas. O advogado André Luiz Andrade, do escritório Chalfin, Goldberg & Vainboim, avalia que, após a fase de adaptação, haverá ganhos significativos. “O Brasil é hoje um dos países onde mais se gasta tempo com obrigações tributárias. A unificação deve simplificar rotinas e reduzir esse custo operacional”, destacou.
Na mesma linha, Damasceno lembra que a padronização tende a diminuir obrigações acessórias, substituindo múltiplas declarações por uma escrituração fiscal única.
O momento de agir
Apesar de o período de transição só começar em 2026, Silverio alerta que as empresas não devem adiar seus planos de preparação. “Esperar até a virada do sistema é um erro estratégico. É agora que pessoas e processos precisam estar alinhados para o novo cenário”, concluiu.
Portal Educação – com informações do Poder360



